Afonso Cruz

Vamos comprar um poeta

Joana Sá 

Delicioso ♡

"Antes de adormecer faço abdominais e flexões e alongamentos com a imaginação, para aquecer as articulações e os músculos da fantasia."


"A cultura não se gasta. Quanto mais se usa, mais se tem."

Magda Pais

O último livro completo que li em 2016 foi Os livros que devoraram o meu pai e, em 2017, o primeiro que começo e acabo no mesmo ano... é este Vamos comprar um poeta. Afonso Cruz a tomar de assalto as minhas leituras e a deixar-me a pensar porque é que não o comecei a ler mais cedo?

Tenho milhas a percorrer antes de dormir.

Oração a repetir sempre, antes de nos deitarmos. Que substituo, por uns tempos, por: tenho que ler tudo o que possa de Afonso Cruz.

Vamos comprar um poeta foi comprado poucas horas antes de findar o ano e foi literalmente devorado em poucas horas. Soube a pouco. A escrita de Afonso Cruz sabe sempre a pouco. Principalmente quando nos fala da importância da poesia, da literatura, na sociedade e no bem que nos faz podermos sonhar. Afonso Cruz torna um pequeno livro (100 páginas) num autêntico monumento à Cultura e numa critica à sociedade materialista em que vivemos.
A ler, a reler e a sonhar. Porque

A cultura não se gasta. Quanto mais se usa, mais se tem

Numa sociedade dominada pelo materialismo, as famílias têm artistas em vez de animais de estimação. É nesse cenário, onde cada espaço tem um patrocinador, cada passo é medido com exatidão, e até a troca dos afetos é contabilizada, que uma menina pede ao pai um poeta. Com humor e leveza, Afonso Cruz conduz uma narrativa para fazer pensar sobre o utilitarismo e o papel da arte em um mundo onde tudo precisa ser mensurado.

Vamos Comprar Um Poeta

Julia Milhomens 

Colocou uma pequena mesa, [...]. Tinha um tampo redondo, vidro temperado, com trinta e sete centímetros de diâmetro. Bonita, diria um poeta.

Eu me apaixonei demais por esse livro - ou conto?

É através de uma narrativa, um tanto exata e um plano de fundo, um tanto estranho, que o autor trabalha com uma sociedade extremamente materialista para deixar claro a importância da poesia, da arte e da ficção. 

Achei interessante que Afonso Cruz fala sobre só fazer coisas que são úteis, o afeto como algo que vá te dar algum retorno, as ações cotidianas e a divisão de tempo destinados a isso, algo muito similar a ser produtivo o tempo todo, sobre considerar o que não te da "nada" como inútil, como as pessoas nesse livro pensam sobre a poesia e a arte, aqui elas são adquiridas porque certa pesquisa disse que faz bem e quando você está bem, você produz mais. O autor tenta quebrar essa ideia em poucas páginas e te deixa com a pulguinha atrás da orelha para pensar melhor nisso, você faz as coisas pensando na quantidade, no retorno, apenas na produtividade? 

Eu já esperava gostar do livro, mas tiveram momentos que senti umas coisas tão doidas e ri de umas coisas tão geniais e tão bem colocadas, que fiquei muito ??????????????? O apêndice é muito muito bom e quero procurar outras obras do autor

Vou colocar outros quotes que curti bastante. 

Sem metáforas, por exemplo, não é muito interessante falar. Eu posso dizer que uma janela é uma janela, mas isso já toda a gente sabe. Com a poesia posso dizer que uma janela é um bocado de mar ou uma cotavia a voar. 

 Um poeta é como quem sai do banho e passa a mão pelo espelho embaciado para descobrir o seu próprio rosto. [...] Sei que é um trabalho árduo, há demasiado vapor a tornar a vida pouco nítida, desfocada. Mas vou insistir.

Vamos comprar um poeta

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