Impossível sair da Terra
Os dez contos e a nouvelle aqui reunidos são Alejandra Costamagna em estado puro. Ou seja: uma autora com pleno e total domínio da melhor técnica narrativa, com olhos de pescador atento diante da vida, suas contradições e surpresas. E, claro, atentos para os desastres do amor. Já com seu primeiro livro, o romance En voz baja, de 1996 – quando ela tinha 26 anos – Alejandra Costamagna chamou, e muito, a atenção da crítica e mereceu elogios de seu conterrâneo Roberto Bolaño. Quatro anos depois publicou Malas noches, seu primeiro livro de contos. E daí em diante foi precisa e principalmente no relato curto que passou a mostrar sua sólida maestria no ofício de escrever. Seus romances são igualmente elevados, elevadíssimos. Mas é nos contos que se supera. A concisão e a tensão do texto breve foram o caminho natural de Alejandra. Tanto é assim que ela reescreveu, cortando e cortando e revirando tudo, seu livro de estreia. Rebatizado para Había una vez un pájaro, e acompanhado de outros dois contos, apareceu em 2013. Foi minha primeira leitura da sua escrita, e até hoje lembro claramente a intensidade do impacto. Conheci Alejandra em Havana, no começo de fevereiro de 2014, quando participamos do júri do prêmio Casa de las Américas. Entre outras tantas coisas, me contou que tinha um gato e que havia frequentado uma oficina literária de meu bom amigo Antonio Skármeta. Conheci o que ela escreve logo depois. E nunca mais deixei de ler, e me alegra, e tanto, que ela agora chegue ao Brasil. É, de longe, um dos principais e mais fulgurantes destaques da atualidade na América Hispânica. E este Impossível sair desta terra é a melhor prova do que digo. Eric Nepumocemo, autor, jornalista e tradutor brasileiro.