Conceição Evaristo

Canção para ninar menino grande

“vi e ouvi o corpo de juventina maria perpétua se aprumar e entoar uma comovente ária. a “canção para ninar menino grande”, um canto que tinha nascido da vivência amorosa dela, a única até então. assisti ao corpo quase desfalecido de tina se recuperar na contação da vida. a crença me foi permitida porque era um ano de escutar e ver. eu na escuta-via ou vendo-escutava, como queiram. a história de juventina estava ali. tinha o corpo. havia a fala dela, o timbre, o tom. havia a contação, cujo cerne era o corpo e seus gestos. era a vida. por isso, acreditei e escrevi. só escrevo o que creio, vem daí a minha invenção, pois a canção é minha também.”

pareço não saber o que falar sobre esse livro, apenas sentir. 

canção para ninar menino grande é um escrito tátil, é tão físico e tão intrínseco com o mundo fora dele, uma obra de emoções que se discorrem em nossas mãos por cada página, que abre o coração do leitor sem pedir a liberdade; apenas o invade. te gera um misto de sinais, concepções confusas em um viés de falar de vida, de vidas humanas sobre o conceito do amor e suas incontáveis variáveis formas de o encarar, o sentir e, diretamente ligado com as anteriores mas de uma forma ainda mais importante, vivê-lo. 

é uma leitura imersiva, porém dinâmica, guiada por uma narração tão entregue e ao mesmo tempo tão sensível, carregando o leitor até um espectro tão grande de compreensão e empatia com cada uma das vivências narradas. e, em meio ao escrito, mostra-se também como isso é o propósito; a narração da vida, as histórias serem contadas, os amores serem honrados pelo simples fato de um dia terem sido vividos, assim como falar sobre a subjetividade do conceito de liberdade, já que o homem que mais jurava ser livre era o que mais estava preso a sua própria vida, e a mulher que mais taxava-se como castigada pela ausência de liberdade era, na verdade, a que mais possuía o tal sentimento de liberdade, justamente porque no caso dela seus sentimentos eram livres, e eram livres ao seu conceito, ao que ela fez deles. 

um livro para se ler, se ver entre empatia e apatia com ações, mas no fim para se entender, e, acima de tudo é um livro sobre a vida. 

uma narrativa que aborda a solidão, traumas de rejeição e vivências de pessoas negras, que tantas vezes são restringidas de uma vida onde se pode experienciar o amor, o afago, tudo por um conceito de vida há tanto tempo empregado socialmente a força contra os mesmos. nesse mesmo raciocínio, falando da sexualização sofrida, e do triste fato de que muitas pessoas pretas, como o fio jasmim, nem ao menos se dão conta do quanto estão sofrendo com isso até terem a chance de se enxergarem em um contexto diferente onde isso não ocorre. e vemos isso ser aplicado em ambos os gêneros, se estendendo desde as mulheres negras que, narradas em meio ao livro, sofrem tantas vezes por serem tratadas e vistas como objeto sexual, relevantes apenas para os momentos de diversão dos homens mencionados na história, sendo vistas assim até mesmo por fio jasmim, que é um homem preto, e sendo resumidas a corpos até mesmo por todas as suas respectivas cidades, independentemente de suas idades, como é abordado na história de aurora correa liberto, e, então a sexualização permanece sendo um assunto ao tratar-se de fio jasmim, que passou sua vida acostumado a tratar seu corpo como unicamente um objeto de prazer, vivendo unicamente do ato de procriar e encantar mulheres, as empilhando, sem conhecer a chance da vulnerabilidade, do aconchego e do afago genuíno e puro, e não se dando a chance de experienciar o próprio sentimentalismo também, em razão de ter sido ensinado desde sempre que esses não faziam parte de seu papel como homem negro. 

camille menezes

“vi e ouvi o corpo de juventina maria perpétua se aprumar e entoar uma comovente ária. a “canção para ninar menino grande”, um canto que tinha nascido da vivência amorosa dela, a única até então. assisti ao corpo quase desfalecido de tina se recuperar na contação da vida. a crença me foi permitida porque era um ano de escutar e ver. eu na escuta-via ou vendo-escutava, como queiram. a história de juventina estava ali. tinha o corpo. havia a fala dela, o timbre, o tom. havia a contação, cujo cerne era o corpo e seus gestos. era a vida. por isso, acreditei e escrevi. só escrevo o que creio, vem daí a minha invenção, pois a canção é minha também.”

pareço não saber o que falar sobre esse livro, apenas sentir. 

canção para ninar menino grande é um escrito tátil, é tão físico e tão intrínseco com o mundo fora dele, uma obra de emoções que se discorrem em nossas mãos por cada página, que abre o coração do leitor sem pedir a liberdade; apenas o invade. te gera um misto de sinais, concepções confusas em um viés de falar de vida, de vidas humanas sobre o conceito do amor e suas incontáveis variáveis formas de o encarar, o sentir e, diretamente ligado com as anteriores mas de uma forma ainda mais importante, vivê-lo. 

é uma leitura imersiva, porém dinâmica, guiada por uma narração tão entregue e ao mesmo tempo tão sensível, carregando o leitor até um espectro tão grande de compreensão e empatia com cada uma das vivências narradas. e, em meio ao escrito, mostra-se também como isso é o propósito; a narração da vida, as histórias serem contadas, os amores serem honrados pelo simples fato de um dia terem sido vividos, assim como falar sobre a subjetividade do conceito de liberdade, já que o homem que mais jurava ser livre era o que mais estava preso a sua própria vida, e a mulher que mais taxava-se como castigada pela ausência de liberdade era, na verdade, a que mais possuía o tal sentimento de liberdade, justamente porque no caso dela seus sentimentos eram livres, e eram livres ao seu conceito, ao que ela fez deles. 

um livro para se ler, se ver entre empatia e apatia com ações, mas no fim para se entender, e, acima de tudo é um livro sobre a vida. 

uma narrativa que aborda a solidão, traumas de rejeição e vivências de pessoas negras, que tantas vezes são restringidas de uma vida onde se pode experienciar o amor, o afago, tudo por um conceito de vida há tanto tempo empregado socialmente a força contra os mesmos. nesse mesmo raciocínio, falando da sexualização sofrida, e do triste fato de que muitas pessoas pretas, como o fio jasmim, nem ao menos se dão conta do quanto estão sofrendo com isso até terem a chance de se enxergarem em um contexto diferente onde isso não ocorre. e vemos isso ser aplicado em ambos os gêneros, se estendendo desde as mulheres negras que, narradas em meio ao livro, sofrem tantas vezes por serem tratadas e vistas como objeto sexual, relevantes apenas para os momentos de diversão dos homens mencionados na história, sendo vistas assim até mesmo por fio jasmim, que é um homem preto, e sendo resumidas a corpos até mesmo por todas as suas respectivas cidades, independentemente de suas idades, como é abordado na história de aurora correa liberto, e, então a sexualização permanece sendo um assunto ao tratar-se de fio jasmim, que passou sua vida acostumado a tratar seu corpo como unicamente um objeto de prazer, vivendo unicamente do ato de procriar e encantar mulheres, as empilhando, sem conhecer a chance da vulnerabilidade, do aconchego e do afago genuíno e puro, e não se dando a chance de experienciar o próprio sentimentalismo também, em razão de ter sido ensinado desde sempre que esses não faziam parte de seu papel como homem negro. 

todo mundo deveria ler esse livro.

Canção para ninar menino grande

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