Eliete A vida normal
A vida familiar, de esposa e mãe dedicada, começa aos poucos a sufocar Eliete. Nascida em 1975, ano da Revolução dos Cravos, ela sempre desejou uma vida normal, que aparenta ter conquistado quando chega aos 42 anos. Mas a percepção que tem da própria existência muda com a notícia de que a avó foi hospitalizada. Esse evento particular desencadeia uma investigação de sua vida: a infância, marcada pela morte inesperada do pai; a relação — narrada com uma crueza que poucas vezes encontramos na literatura — que estabelece com a mãe, com a avó e com a memória desse pai que lutou contra a ditadura salazarista. Aos poucos, as inquietações crescem no interior de Eliete, consumindo não só seu passado, mas também o relacionamento com o marido (com quem divide o teto mas de quem tem mais notícias pelas redes sociais) e com as filhas (das quais se sente cada vez mais distante). Em fuga desse cenário turvo, ela então decide refugiar-se no Tinder, onde finge ser outra pessoa, e os encontros que surgem transformam a vida dessa mulher e a maneira como ela se enxerga. Com uma prosa habilmente construída, Dulce Maria Cardoso maneja com precisão a linguagem e a história neste romance inquietante e sensível.