Franz Kafka

Letter to His Father / Brief An Den Vater

giovanna

eu perdi a autoconfiança diante de ti, que foi substituída por uma consciência de culpa ilimitada.

Eu podia desfrutar o que tu me davas, mas apenas sentindo vergonha, cansaço, fraqueza, consciência de culpa. Em consequência disso eu só conseguia ser grato mendicantemente, jamais através da ação.

Por todos os lados eu acabava culpado sob teus olhos.

Quando eu começava a fazer alguma coisa que não te agradava e tu me ameaçavas com o fracasso, então o respeito pela tua opinião era tão grande que com ele o fracasso era inevitável, mesmo que só ocorresse em uma época posterior. Perdi a confiança nos meus próprios atos. Tornei-me instável, indeciso.

Teus recursos oratórios, eficazes ao extremo e jamais falhos, pelo menos no que diz respeito a mim, eram: insultar, ameaçar, ironia, riso malvado e–curiosamente–autoacusação.

Que esse resultado mesmo assim seja penoso para ti, que tu inclusive te recuses inconscientemente a reconhecê-lo como produto da tua educação, se deve justamente ao fato de que a tua mão e o meu material eram tão estranhos um para o outro. Tu dizias: “Nenhuma palavra de contestação!” e querias com isso fechar a boca das desagradáveis forças opostas a ti que existiam em mim, mas essa influência era demasiado forte para mim, eu era demasiado obediente e calava de todo, me escondia de ti e só ousava me mexer quando estava tão distante a ponto de o teu poder não mais me alcançar, pelo menos diretamente. Mas tu estavas em pé diante de mim e tudo te parecia ser novamente “do contra”, quando era apenas a consequência natural da tua força e da minha fraqueza.

E ainda sem poder argumentar nada, pois te é de antemão impossível falar com serenidade sobre uma coisa com a qual não estás de acordo ou que simplesmente não parta de ti; teu temperamento dominador não o permite.

na medida em que, quando ele faz alguma coisa que na tua opinião não parece limpa, tu nem te contentas em dizer o que antigamente dizias a mim: “Tu és um grande porco”,

Por favor, pai, me entenda bem, esses pormenores teriam sido totalmente insignificantes em si; eles só me oprimiam porque o homem que de maneira tão grandiosa era a medida de todas as coisas não atendia ele mesmo aos mandamentos que me impunha.

A gente não podia sorver o vinagre fazendo barulho, tu sim. O principal era cortar o pão bem reto; mas o fato de tu o fazeres com uma faca pingando molho não importava. A gente tinha de prestar atenção para que nenhum resto de comida caísse ao chão, debaixo de ti estava a maior parte no final das contas. Na mesa a gente podia se ocupar apenas da comida, mas tu limpavas e cortavas as unhas, apontavas o lápis, limpavas os ouvidos com o palito de dentes.

Bastava a gente estar feliz com alguma coisa, sentir-se realizado com ela, chegar em casa e expressá-la, para que a resposta fosse um suspiro irônico, um sacudir negativamente a cabeça, um tamborilar de dedos sobre a mesa: “Já vi coisa mais interessante” ou “Bem mo dizes, mas o problema continua sendo teu” ou “Tenho mais com que me preocupar” ou “Nossa, que acontecimento!” ou “Dá pra comprar alguma coisa com isso?”. Naturalmente eu não podia exigir de ti entusiasmo por uma ninharia qualquer de criança, vivendo como vivias, cheio de preocupação e trabalho pesado. Nem era disso que se tratava. Tratava-se, muito antes, do fato de que tu precisavas causar essas decepções à criança, sempre e por uma questão de princípio, graças ao teu ser contraditório, e, mais ainda, que essa contradição se fortalecia sem cessar pela acumulação de material, de tal forma que no fim ela acabava se impondo até como costume, mesmo que às vezes tu tivesses opinião igual à minha, e finalmente, já que essas decepções não eram as decepções da vida comum, elas acertavam em cheio, pois isso dizia respeito à tua pessoa, a medida de todas as coisas. A coragem, a determinação, a confiança, a alegria nisso e naquilo não se sustentavam até o fim, quando tu eras contra ou mesmo quando a tua oposição podia ser meramente presumida; e ela podia sem dúvida ser presumida em quase tudo o que eu fazia.

Da tua poltrona, tu regias o mundo. Tua opinião era certa, qualquer outra era disparatada, extravagante, meschugge, anormal. E tua autoconfiança era tão grande que tu não precisavas de maneira alguma ser consequente e mesmo assim não deixavas de ter razão.

Não há dúvida de que a partir daquele momento me tornei obediente, mas fiquei machucado por dentro devido ao fato.

Tu podes tratar um filho apenas na medida em que tu mesmo foste criado, com força, barulho e cólera, e nesse caso isso te parecia, além do mais, muito adequado, porque querias fazer de mim um jovem forte, corajoso.

Tu influíste sobre mim conforme tinhas de influir, só que tens de parar de considerar uma maldade especial da minha parte o fato de eu ter sucumbido a essa influência.

Fatima

Es ist auch wahr, daß Du mich kaum einmal wirklich geschlagen hast. Aber das Schreien, das Rotwerden Deines Gesichts, das eilige Losmachen der Hosenträger, ihr Bereitliegen auf der Stuhllehne, war für mich fast ärger. Es ist, wie wenn einer gehängt werden soll.

Thamires Xavier 

Seja como for, éramos tão diferentes e nessa diferença tão perigosos um para o outro, que se alguém por acaso quisesse calcular antecipadamente como eu, a criança que se desenvolvia devagar, e você, o homem-feito, se comportariam um com o outro, poderia supor que você simplesmente me esmagaria sob os pés e que não sobraria nada de mim.

Kälte, Fremdheit, Undankbarkeit. […] als wäre es meine Schuld, […] während Du nicht die geringste Schuld daran hast, es wäre denn die, daß Du zu gut zu mir gewesen bist. […] Du seist gänzlich schuldlos an unserer Entfremdung. Aber ebenso gänzlich schuldlos bin auch ich.

lch wäre glücklich gewesen, Dich als Freund, als Chef, als Onkel, als Großvater, ja selbst als Schwiegervater zu haben. Nur eben als Vater warst Du zu stark für mich […].

So können natürlich die Dinge in Wirklichkeit nicht aneinanderpassen, […] aber mit der Korrektur, […] die ich im einzelnen weder ausführen kann noch will, ist meiner Meinung nach doch etwas der Wahrheit so sehr Angenähertes erreicht, daß es uns beide ein wenig beruhigen und Leben und Sterben leichter machen kann.

Zwischen uns war es kein eigentlicher Kampf; ich war bald erledigt; was übrigblieb war Flucht, Verbitterung, Trauer, innerer Kampf. Ihr zwei waret aber immer in Kampfstellung, immer frisch, immer bei Kräften. Ein ebenso großartiger wie trostloser Anblick. 

Wollte ich vor Dir fliehn, mußte ich auch vor der Familie fliehn

Das, was Du Dir erkämpfen mußtest, bekamen wir aus Deiner Hand, aber den Kampf um das äußere Leben, der Dir sofort zugänglich war […], den müssen wir uns erst spät, […] erkämpfen.

Du bekamst für mich das Rätselhafte, das alle Tyrannen haben, deren Recht auf ihrer Person, nicht auf dem Denken begründet ist. 

Kafka, assim como muitos, conviveu e experienciou os efeitos da criação do seu pai, porém, com precisão, ele foi capaz de perceber de onde seus sentimentos vinham. Através da carta, Kafka relaciona eventos de sua juventude com a da vida adulta, contando a seu pai como sua figura refletiu em sua vida, e mesmo que em grande parte, seja uma reflexão negativa, vemos que não há um “culpado” na história, e sim, como a influência de quem consideramos nossa “base” sempre estará conosco.

He really said « on my way to heal my inner child », wrote this and left it to rot in a corner of his desk for years instead of giving his inner child closure.

Romy

Ghofran Mustafa 

Reading this was like opening my head and stirring up bad memories.

Anushree Taparia

Letter to the Father / Brief an den Vater

extremely sad to read but also essential for understanding his works. ough

Cathy Trình

I just cried the entire time while reading.

I really feel like I just read the most intimate and personal thoughts of someone. It felt like interrupting someone while they talk about their most secret problems to themselves. 

I just cried the entire time while reading.

I really feel like I just read the most intimate and personal thoughts of someone. It felt like interrupting someone while they talk about their most secret problems to themselves. 

Gulshan Hasanzada

Kafkasevərlərin çoxu müəlliflə bu əsərlə tanış olduqdan sonra düşünürlər ki, onun bütün əsərləri ata&oğul motivləri əsasındadır. Bunda bir həqiqət payı var, amma belə yanaşma Kafkanın əsərlərini izah etmək üçün yetərsiz qalacaq. bu, rəyim burda dursun :D

Müəllif özü atasının evlənməyə icazə verməməsi qəzəbi ilə 1919cu ildə bu məktubu yazıb və ünvanlanacaq şəxsə onu heç bir zaman göndərməyib, hətta özü məktubdan elə qorxurmuş ki bir daha əlinə almayıb. Öldüyü təqdirdə yandırması üçün məktubu dostu Brooda versə də, Brood bu məktubu işığa çıxarır və biz Kafkanı Kafka edən atasına qəribə də olsa, təşəkkür edəsi oluruq.

Ata&oğul arasındakı münasibətin bir fərdi necə formalaşdırdığını, onun həyatını, düşüncələrini necə ərsəyə gətirdiyini görürük. Kafkanın məktub tonu onun gan şikayətçi, gah peşman, gah da günahkar olduğunu göstərir. Bu detallar bir araya gələndə böyük dağıdıcı qüvvə meydana gələn xeyli də səmimi etiraf formalaşır.

Letter to His Father / Brief An Den Vater

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