Reviews

Contrariamente ao que eu esperava, quando acabei A Senhora da Magia não comecei logo este. E tudo porque o mais recente livro de Anne Bishop - Visão de Prata - se meteu pelo meio e, como já o disse, Anne Bishop tem primazia sobre todos os livros em espera. Mais uma vez pegar n'A Rainha Suprema foi um regresso a casa. Mais um bocado de Avalon a que regresso de quando em vez. Apesar disso, apesar de conhecer toda a história e de saber, quase de cor, o que se passa a seguir, a verdade é que continuo a encantar-me com As Brumas de Avalon como se fosse a primeira vez que os leio. Talvez seja esse o encanto destes livros - cada releitura sabe-me a uma primeira vez e mesmo sabendo a sequencia dos acontecimentos, espero sempre que mudem, que Morgaina e Viviane conseguiam que a religião da Deusa se sobreponha à cristã, que Arthur se recorde da sua promessa e que Lancelot e Gwenhwyfar possam viver a sua paixão sem serem criticados. Ao mesmo tempo que espero mudanças, confesso que me sabe bem perceber que tudo acontece como tem de acontecer e que nem todas as releituras do mundo irão alterar aquilo que está escrito, e que nos leva da alegria à fúria, da tristeza à perplexidade. E pelas personagens - principalmente por Gwenhwyfar - somos obrigados a reflectir sobre as diferenças e similaridades entre o cristianismo e paganismo. De referir ainda que a autora consegue, de forma magistral, ter duas personagens que reflectem essa mesma dicotomia - Gwenhwyfar que defende, com unhas e dentes, o cristianismo e Morgaine, pagã de alma e coração. É extraordinário como Marion Zimmer Bradley consegue tornar ambas credíveis e ambas marcantes, cada uma à sua maneira (apesar de, confesso, às vezes, me apetecer dar dois pares de estalos em Gwenhwyfar). Depressa e bem, aqui vou a caminho da leitura (ou, mais exactamente, da releitura) do Rei Veado. Porque Avalon ainda espera por mim.

Sabem quando estão uns meses fora de casa, a saudade enquanto lá estão e aquele sentimento indescritível de ter chegado a casa? Foi essa saudade que me levou a trazer As Brumas de Avalon (os quatro volumes) para ler nas férias e é esse sentimento de chegar a casa que me acompanha desde que comecei a ler o primeiro volume. Sempre foram e sempre serão Os Meus Livros, aqueles que mais vezes reli, aqueles que estão no top 5 das minhas preferências e aqueles que recomendo a toda a gente. Foi com eles que aprendi a gostar de fantasia, foi com eles que me apaixonei, vezes e vezes sem conta, por Morgaine e pelas lendas arturianas. E nem a polémica em torno da autora me faz repensar esta paixão adolescente que ainda se mantêm viva. As lendas arturianas. Artur, o rei que, de acordo com a lenda, voltaria à Bretanha para voltar a unir os reinos os desavindos e que traria, de novo, a paz e a prosperidade. Lembra-vos alguma coisa? bem, no caso de Artur, não há nevoeiro mas há as brumas. As que protegem Avalon dos cristãos e onde só os iniciados conseguem entrar. Avalon, a ilha mística onde as mulheres reinam e onde os destinos dos comuns são jogados por um bem maior. Nesta Bretanha convivem duas realidades. A romana, com as regras cristãs e as suas penitencias, com um Deus de morte e sofrimento que relega a mulher para um segundo plano, e os que adoram a Deusa, a Senhora do Lago, a religião da terra, em que as mulheres são a sua representação no mundo, respeitadas, adoradas e iguais aos homens. Romanos, os que estabelecem a linhagem pelo homem em vez de ser pela mulher o que era uma tolice, pois como é que um homem podia, alguma vez, saber com certeza absoluta quem gerara o filho duma mulher. Neste primeiro volume conhecemos Igraine e Uther, os pais de Arthur e como este foi concebido. Mas a história de Arthur não pode ser contada sem conhecermos também Morgaine: No meu tempo chamaram-me muitas coisas: irmã, amante, sacerdotisa, maga, rainha. Agora, em verdade, acabei por me tornar uma maga, e pode vir um tempo em que estas coisas precisem de ser conhecidas. Mas em perfeita verdade, penso que serão os cristãos a ter a última palavra. O mundo das Fadas está a afastar-se definitivamente do mundo em que Cristo governa. Não tenho nada contra Cristo, apenas contra os seus sacerdotes que chamam à Grande Deusa um demónio e negam que ela alguma vez tenha tido poder neste mundo. Dizem que, no máximo, o poder dela era o de Satanás. Ou então vestem-na com o manto azul da Senhora de Nazaré - que, de facto, à sua maneira, também teve poder - e dizem que foi sempre virgem. Mas o que é que uma virgem pode saber da labuta e dos sofrimentos da humanidade? E agora que o mundo mudou e Arthur - meu irmão, meu amante, rei que foi e rei que será - jaz morto (o povo diz que dorme) na Ilha Sagrada de Avalon, deve-se contar a história de como era antes dos padres de Cristo Branco chegarem e cobrirem tudo com os seus santos e lendas. Termino este volume e pego de seguida no segundo. Ainda só estive numa divisão da casa e quero matar saudades de todas as divisões para depois, então, voltar à descoberta de novos livros e novos autores. Sabendo, é claro, que Avalon estará sempre à minha espera. (mais sobre livros em http://stoneartbooks.blogs.sapo.pt/)

3,5*

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