Philippe Claudel

Almas Cinzentas

Nelson Zagalo

Acabei de ler este livro há 10 dias, não escrevi logo sobre ele porque senti grande deceção alimentada pela expectativa que tinha criado a partir da leitura aqui de tantas resenhas de cinco estrelas. O livro é acessível e a escrita regular. Foca-se no género policial e usa um narrador que dá conta do crime sucedido, dos potenciais culpados e de algum contexto. Por vezes o narrador tenta umas tiradas mais profundas, mas sentem-se forçadas e sem ligação ao resto. 

Para dizer a verdade, estou aqui a escrever e a tentar recordar o que acontece no livro e não me lembro de mais nada além de uma casa grande, semi-abandonada, um rio, e uma menina assassinada. Tudo o resto se esfumou. Interrogo-me porquê, e a resposta parece ligar-se inevitavelmente ao facto de nada ter sentido ao longo da leitura. Chegado ao final o novelo do enredo foi desfiado, mas aqueles personagens podiam ser quaisquer outros, só nos são apresentados a partir de fora, nada sabemos sobre o seu interior. Não são apresentados culpados nem inocentes e isso até poderia ser bom. O problema é que não temos personagens com que trabalhar para continuar a imaginar o que não se diz. Nunca chegamos a conhecer o procurador, que pessoa era ele, além de ser o enigma da aldeia? E o narrador, quem era ele além de ser aquele que queria resolver o mistério? E a menina, quem era ela, além de servir a metáfora da inocência?

Não sei. Comigo não funcionou. Entrou por um lado, saiu pelo outro.

Almas Cinzentas

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