Sarah Waters

Um romance vitoriano que os vitorianos nunca sonharam escrever. Com diálogos afiados e provocantes, 'Na ponta dos dedos' - finalista do Booker Prize em 2002 -mistura ladrões e golpistas, mansões e manicômios, intriga e desilusão, além de erotismo e farsa. Tudo com um ar contemporâneo e reviravoltas que surpreendem o leitor do início ao fim do romance escrito soberbamente pela inglesa Sarah Waters.

Na ponta dos dedos

Ana Carolina de Castro Machado

Como um homem é capaz de passar mal — diz ele — com a visão de algumas gotas de seu próprio sangue. Como vocês, mulheres, são monstros por resistirem a isso todo mês. Não admira que sejam propensas à loucura. 

Beijo proibido demais, incerto demais, hesitante demais, errado demais, e, portanto, certo até demais para duas pessoas tão ardilosas e sem escrúpulos.

E, ao fazer isso, estremeço, ou me arrepio. Pois é como descobrir algo esfolado, o incomodo de uma ferida, um nervo. Ela me sente sacudir e se afasta — mas devagar, devagar e contra a vontade, de modo que nossas bocas Is Se parecem se grudar e, ao se separarem, se rasgar. Ela fica em cima de mim. Sinto a batida acelerada de um coração, e suponho que seja o meu. Mas é o dela. Sua respiração se acelera. Ela começou, bem levemente, a tremer. 

Percebo sua excitação, a sua perplexidade.

Na ponta dos dedos

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