O Cortiço
Em 1884, Aluísio Azevedo anotou os primeiros esboços para O Cortiço, quando, junto com o jornalista Pardal Mallet, saiu em passeio pelo Rio, em trajes populares, para estudar a vida da população mais pobre da cidade, como os trabalhadores das pedreiras, as lavadeiras, registrando a experiência em notas e apontamentos. O cortiço característico do Rio daquela época, com sua impressionante explosão demográfica, que consistia num número, quase sempre grande, de casinhas de aluguel dando para um único pátio, deveria prestar-se de maneira especial ao propósito de Azevedo, uma vez que ele associava e confrontava, direta e concretamente, a existência dos moradores dessas habitações (vivendo a maioria em precárias condições) com a dos exploradores desses "empreendimentos". Em um artigo intitulado "Casas de Cômodos", Aluísio denunciava a implacável exploração dos moradores de pensões e cortiços pelos proprietários, em grande parte imigrantes e que principia com os seguintes termos pragmáticos: "Há no Rio de Janeiro, entre os que não trabalham e conseguem, sem base pecuniária, fazer pecúlio e até enriquecer, um tipo digno de estudo - é o dono de casas de cômodos". O Cortiço surgiria em maio de 1890, e foi recebido pela crítica com rasgados elogios. Entretanto, era uma edição de apenas 1000 exemplares, acompanhada de uma campanha publicitária que não poderia ser desprezada. A capa da Gazeta de Noticias, de 27 de abril de 1890, anunciava, poucos dias antes do lançamento oficial, a chegada do "já afamado romance de Aluísio de Azevedo". Este livro que é considerado o livro mais importante da carreira de Aluísio Azevedo é também um estudo do cortiço, provavelmente exato, porque o autor deu-se ao trabalho de ver e ouvir, com bons olhos e bons ouvidos, a realidade. Transbordam de vida nas páginas de O Cortiço, as lavadeiras com suas tinas, os mascates com suas caixas, as promiscuidades inevitáveis, a germinação constante de novas existências, as palavradas, os mexericos, os pequenos escândalos banais, os sambas, os batuques, a formação de capoeiras, enfim todo um lado da sociedade fluminense do final do século XIX.
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Bruno Costa Teixeira@brunoctxa