Noites de alface
Até a inesperada morte de Ada, com quem Otto estava casado há mais de 50 anos, os dois compartilhavam cada detalhe de sua rotina banal: a disputa do pingue-pongue, os cuidados com o jardim, o preparo de couve-flor à milanesa, as longas noites de documentários sobre o reino animal. Agora, a solidão de Otto ocupava uma "casa de gavetas vazias". Arrasado, ele se recusa a interagir com os habitantes da minúscula cidade onde mora. Refugiado na casa amarela onde haviam morado tanto tempo juntos, Otto tenta ruminar sozinho o passado. Mas a cada contato com os conhecidos da vizinhança, parece mais convencido de que, apesar da sutil normalidade, há um mistério no ar, que acaba por preencher sua vida vazia sem Ada. Pouco a pouco, inspirado pelas séries policiais que adora, Otto vai juntando pistas de um mistério, um incidente obscuro que a comunidade procura ocultar. Sua insônia vai piorando; as noites são cada vez mais longas. Talvez a esposa estivesse envolvida. Ou talvez Otto é que esteja ouvindo coisas. Entre ruídos de liquidificador, latidos, discussões e chineladas, o suspense vai encurralando o solitário morador da casa amarela, que precisa decidir se quer ou não saber a verdade. "Noites de alface" é um romance que trata de perda, solidão e das convivências diárias triviais, às quais se pode resumir e encerrar uma vida inteira.