Noa Noa: viagem de Tahiti
Ruá (Grande é a sua origem) dormia com a mulher, a terra tenebrosa, que deu à luz o seu rei, o solo, e depois o crepúsculo, e depois as trevas. Ruá repudiou então essa mulher. Ruá (grande é a sua origem) dormia com a mulher chamada Grande Reunião, e esta deu à luz as rainhas dos céus, as estrelas, e depois Faiti, estrela da tarde. O Rei dos céus dourados, rei único, dormia com a sua mulher Fanuí, e nasceu dela o astro Fouruá - Vénus (estrela da manhã) - o rei Fouruá que dá leis à noite e ao dia, às estrelas, à lua, ao sol, e serve de guia aos marinheiros. Fez-se à vela para a esquerda, Fouruá, e para o norte, e dormiu aí com sua mulher, guia dos marinheiros, que deu à luz a estrela vermelha, estrela vermelha que brilha à tarde com duas faces. Estrela vermelha, o deus que voa para oeste, prepara a piroga, a piroga do dia alto que singra em direcção aos céus. Faz-se à vela ao nascer do sol. Ruá caminha nos espaços. E dormia com sua mulher Urá-Tanaipá, nascendo dela os reis, os gémeos que estão à frente das Plêiades. Eram de Bora-Bora e ao ouvirem os pais dizer que iam separá-los, abandonaram a casa paterna e foram juntos para Raiatea, e depois para Uhamê, Eimeo e Otaiti. Mal partiram, a mãe inquieta começou a procurá-los mas chegava sempre tarde a todas as ilhas. Soube no entanto em Otaiti que eles ainda lá estavam e se escondiam nas montanhas. Acabou por descobri-los, mas fugiram à sua frente, até ao cume mais alto. Aí, lavada em lágrimas, no instante em que se julgava prestes a apanhá-los eles levantaram voo para os céus e ainda lá se encontram, no meio das constelações.