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Neste seu novo livro, "The Expectation Effect" (2022), Robson começa de forma bastante convincente, levantando o véu sobre os efeitos do placebo, atacando os estudos farmacológicos que tendem a usar o placebo em testes de controlo e depois ignoram os mesmos quando atingem os 20%, esquecendo que esses 20% deveriam dizer-nos algo. Para o efeito convoca uma imensidade de estudos que têm vindo a demonstrar o poder do placebo, não tanto na cura mas como ajuda ao tratamento. Casos em que o placebo funciona na estimulação de uma ação mental positiva, criada por via do que ele aqui chama "efeito de expectativa", sendo capaz de suplantar a fisiologia, colocando a mente a dirigir o corpo. Isto não é propriamente novo, sabemos que isto é aquilo que acontece na religião, assim como nas medicinas alternativas — da acupuntura à homeopatia. A crença no efeito da ação realizada — rezas, agulhas ou água destilada — conduz a pessoa a um processo interior que por vezes produz efeitos verdadeiramente transformadores. Talvez o mais impactante desses efeitos seja o caso dos placebos conseguirem exponenciar os efeitos de medicação anterior, já que a mente reconhecendo a ação como terapêutica liga o placebo ao efeito fisiológico provocado pelo medicamento real anterior conseguindo assim despoletar exatamente a mesma reação sem usar qualquer substância química. Robson defende que isto poderia servir para agirmos no sentido de diminuir a quantidade de medicamentos que tomamos, evitando assim muitos dos problemas produzidos pelos chamados efeitos secundários. Contudo, Robson esquece um problema grave nesta sua análise, é que taxas de 20%, e muitas outras que apresenta pouco além dos 10%, não são suficientes para definir caminhos terapêuticos pela simples razão de que os seres humanos não são máquinas. Nos estudos que fazemos temos de excluir uma enorme panaceia de efeitos internos do corpo das pessoas, assim como efeitos externos das ações e ambiente em que as pessoas vivem. As pessoas que participam nos estudos não estão apenas a tomar aquele medicamento, desligando tudo o resto. As pessoas continuam a viver, a comer, a beber, a dormir a interagir com outras pessoas e com muitas outras substâncias presentes no ambiente em que vivem. Por isso, precisamos de taxas muito mais altas para ter garantias de que realmente existe uma causa direta do medicamento tomado. Focar toda uma terapêutica num "expectation effect" que não é mais do que um "estado de crença" não chega. Percebo a atratividade do "expectation effect", mais ainda porque trabalho com narrativas e técnicas de engajamento humano. Mas Robson esquece-se de dizer a quantidade enorme de trabalho prévio que existe e de outras designações que têm sido utilizadas pela psicologia para dar conta desta problemática. Robson faz aquilo que um cientista não pode fazer, realiza "cherry picking" dos estudos e teorias que lhe interessa, evitando abordar muitos dos seus problemas. Por exemplo, uma das teorias fundamentais de suporte às ideias de Robson, o chamado "Priming Effect" desenvolvido por Kahneman, é uma das teorias que tem estado na linha de fogo por parte do movimento das ciências da psicologia com a recente "crise de replicabilidade". .. .. Ler a resenha completa com links no blog: https://virtual-illusion.blogspot.com...