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Já toda a gente sabe que sou um bloco de gelo. Que não choro por razão alguma, não me emociono com facilidade e a minha voz raramente fica embargada. Mas há sempre uma primeira vez. E, enquanto lia Se Eu Ficar, pela primeira vez estive a um minuto de pegar num lenço de papel quando o avó de Mia inclina-se sobre a minha cabeceira, aproxima o rosto da minha orelha e sussura: - Está tudo bem - diz-me ele. - Se quiseres ir, está tudo bem. Toda a gente quer que fiques. Eu próprio quero que fiques, mais do que qualquer outra coisa na minha vida. - A sua voz vacila com emoção. Para, aclara a garganta, inspira e continua. - Mas isso é o que eu quero e percebo que possa não ser aquilo que tu queres. Por isso, queria apenas dizer-te que compreendo se fores. Não faz mal se tiveres de deixar-nos. Não faz mal se tiveres de parar de lutar. Com as devidas adaptações, foi esta a minha despedida dos meus avós. Do meu cunhado. Da minha tia. E, por momentos, estava lá de novo, despedindo-me de todos eles, dizendo-lhes que tudo ia ficar bem. (e ficou. Num dos casos demorou mas ficou). Se Eu Ficar leva-nos pela escolha de Mia entre ir e ficar. Mia revê tudo o que realmente importa para que possa decidir se fica ou vai. Porque, no fim, a escolha é apenas dela. Se Eu Ficar, tal como Sete Minutos Depois da Meia-Noite, mexe com as nossas emoções mas, ao mesmo tempo, dá-nos algumas armas para enfrentar o medo de perdermos quem amamos. Ainda bem que este livro está a circular no âmbito do livro secreto!

Opinião do blogue Chaise Longue: http://girlinchaiselongue.blogspot.pt... Antes de ser escritora, Gayle foi jornalista. Começou na Seventeen com artigos sobre jovens e problemáticas sociais e de justiça e, mais tarde, tornou-se jornalista freelance para outras revistas como a Elle, a Cosmopolitan, Glamour, The Nation, entre outras. Em 2002, juntamente com o marido, fez uma viagem de um ano à volta do mundo e teve a oportunidade de conhecer pessoas bastante interessantes, como travestis no Tonga, obcecados por Tolkien, punks no Cazaquistão ou estrelas de hip-hop na Tanzânia. Esta viagem resultou no seu primeiro livro, um livro de memórias destas viagens e na decisão de ter um filho depois do regresso aos pequenos confortos da vida que deixará por um ano. E, assim, pode-se dizer que a sua filha Willa foi a ponte de rapagem para a sua carreira de escritora já que após o seu nascimento a carreira de jornalista freelance estava fora de questão. Gayle descobriu que dentro da sua cabeça estavam as viagens mais fantásticas da sua vida e quem iria levá-las a cabo seriam personagens dos 12 aos 20 anos. Começou a sua carreira no género young-adult com Sisters in Sanity, baseado num artigo que havia escrito para a Seventeen mas seria com Se Eu Ficar que se tornaria uma autora premiada. Se Eu Ficar, cuja sequela foi recentemente traduzida para português, foi publicado em 2009 e encontra-se traduzido para trinta países. Venceu cinco prémios literários e foi nomeado para mais seis. E se todo o teu mundo desabasse? E se tudo o que te agarrava à vida se tivesse escapado por entre os teus dedos? E se tivesses de escolher entre ir e ficar? Esta é a premissa do livro de Gayle Forman, um pequeno livro que nas suas páginas nos deixa presos entre a esperança e o desespero, entre a luta e a desistência, entre as possibilidades da incerteza de um futuro marcado pela dor e pela ausência. Com uma escrita simples mas poderosa, este livro é um impasse, uma narrativa densa entre os bons momentos, aqueles que marcam uma vida e a dor da perda daqueles que lhe deram sentido. Uma história onde um momento, um pequeno acaso destrui uma família, vidas e futuros, onde uma jovem tem de tomar a mais difícil das decisões. A autora deixa-nos quebrados em cacos, faz-nos repensar toda a nossa vida e momentos, consegue com que sejamos a Mia e ela nós, faz-nos perguntar e se fôssemos nós? Ficávamos ou íamos? Num relato comovente, somos confrontados com o valor daquelas pequenas coisas da vida, aquelas que tomámos por garantidas. O carinho e apoio da família, a ternura e companheirismo da amizade, o calor e doçura do amor, a certeza absoluta que o abandono só virá quando estivermos preparados, que sempre teremos isto e que sempre o quereremos mas a realidade, tal como este livro, pode ser dolorosa. Nas salas esterilizadas de um hospital, sentámo-nos ao lado de Mia e vemo-la recordar cada acontecimento importante da sua vida. Com ela apaixonámo-nos por Adam, adorámos Kim, venerámos a sua família improvável. Com ela somos fracos, chorámos e revoltámo-nos, somos frios e quase impassíveis, somos uma concha vazia que não sabe que decisão tomar. Queremos incentiva-la a ficar, quase a obrigámos a ir, com ela aprendemos que a vida é feita de escolhas e perdas demasiado pesadas e que a força de vontade, muitas vezes, não é o suficiente. De uma maneira tocante acompanhámos a inevitabilidade, o destino se assim lhe quiserem chamar, na sua forma mais cruel, mais definitiva, um destino que nos tira tudo até a importância do que ainda ficou, que parece um nada ao pé do que se perdeu. A partir de um tema bastante sensível, a autora consegue criar aqui uma narrativa de extrema ternura, uma narrativa que glorifica a vida, a família, o amor, que nos apresenta a perfeição de um sonho, onde as pequenas imperfeições e diferenças de cada um escreveram uma história que devia ter um final feliz mas que acaba da maneira mais horrível. Ter de lidar com as sensações que este livro nos provoca não é fácil, chega a ser doloroso recordar, doí saber que se calhar não há muito por lutar, mas o pior é conhecer a Mia dos tempos felizes e saber que um momento vai transformá-la, que ela nunca mais vai ser a mesma Mia, a menos que se deixe ir. As personagens, todas não só Mia, enchem-nos de sentimentos carregados de força, sentimentos bons, doces e risonhos. São personagens que adorámos, que venerámos, que nos tocam de formas impossíveis pela sua esperança e dor. Cada uma delas torna-se alguém importante, alguém com que nos preocupámos, alguém que queremos abraçar e dizer tudo vai ficar bem e, é por elas, que este livro é a grande mensagem que é, são elas que tornam esta pequena história algo que nos pode mudar, que nos pode marcar para sempre. E depois temos a música, a música em todos os seus géneros e sons, a música como ligação, a música que entoa em cada coração e que demonstra bem o que cada um deles é. É incrível como só de ler os momentos musicais desta família, quase conseguimos ouvir os acordes de cada música, como algo tão simples acaba por ser tão grandioso, como faz tanto sentido. Se Eu Ficar é um daqueles livros que nos abala, que nos arrasa em pouco tempo e de forma definitiva. É uma história que não esqueceremos, com lições que não mais deixaremos. Gayle Forman avassala-nos com este livro, deixa-nos sem palavras mas cheios de sentimentos, de certezas, a certeza, que seja como for o amanhã, é bom que haja algo de bom para recordar.















