Italo Calvino

"Se meu livro As cidades invisíveis continua sendo para mim aquele em que penso haver dito mais coisas, será talvez porque tenha conseguido concentrar em um único símbolo todas as minhas reflexões, experiências e conjeturas." Assim se refere o próprio Italo Calvino - um dos escritores mais importantes e instigantes da segunda metade do século XX - a este livro surpreendente, em que a cidade deixa de ser um conceito geográfico para se tornar o símbolo complexo e inesgotável da existência humana.Prêmio Jabuti 1993 de Melhor Produção Editorial de Obra em Coleção

As cidades invisíveis

«"As Cidades Invisíveis" apresenta-se como uma série de relatos de viagem que Marco Polo faz a Kublai Kan, imperador dos tártaros. [...] A este imperador melancólico, que percebeu que o seu poder ilimitado conta pouco num mundo que caminha em direção à ruína, um viajante visionário fala de cidades impossíveis, por exemplo, uma cidade microscópica que se expande, se expande até que termina formada por muitas cidades concêntricas em expansão, uma cidade teia de aranha suspensa sobre um abismo, ou uma cidade bidimensional como Moriana. [...]
Creio que o livro não evoca apenas uma ideia atemporal de cidade, mas que desenvolve, ora implícita ora explicitamente, uma discussão sobre a cidade moderna. [...] Penso ter escrito algo como um último poema de amor às cidades, quando é cada vez mais difícil vivê-las como cidades.»
Italo Calvino

«Ao projetar a sua própria voz nos relatos de cidades que pontuam o diálogo entre Marco Polo e Kublai Kan, Calvino reencontra essa capacidade dos antigos construtores de fábulas, e sabe transmitir o prazer que aquele que conta tem de suscitar no ouvinte, que é o próprio leitor.»

Prefaciado por Nuno Júdice.

As Cidades Invisíveis

Nelson Zagalo

“As Cidades Invisíveis” fundamentam bem todos os problemas levantados pelo estruturalismo. Aquilo que Calvino faz neste trabalho é puro experimentalismo matemático sem réstia de drama, tudo em nome de uma teorização insustentável. Não podemos sequer dizer que neste trabalho, e ao contrário de outros como “Palomar” ou “Se Numa Noite de Inverno um Viajante”, exista uma vontade de pôr à prova a estética literária, já que tudo se limita à experimentação estrutural. 

Por outro lado, o livro acaba tendo um significado ainda maior, já que durante muitos anos tenho apontado a impossibilidade de se criarem histórias sem personagens. Ou seja, criar histórias fazendo uso apenas de mundos, ambientes, cenários e este trabalho de Calvino finalmente demonstra isso. Retirando os pequenos intermédios em que Marco Polo dialoga com Kublai Khan, o resto do livro é passado a descrever cidades, universos imaginários, no detalhe dos seus cenários, espaços e ambientes.

Deste modo, e na ausência de personagens que possam dramatizar esses universos, não surgem acções, e não surgindo estas, não pode surgir enredo. Logo temos em “As Cidades Invisíveis” um trabalho descritivo, ainda que matematicamente inovador e experimentalista, mas não narrativo.

Para alguns este pode representar o derradeiro trabalho construtivista, em que o leitor é chamado a co-criar a obra que lê, a preencher os espaços ausentes de personagens. Para mim, não passa de experimentalismo estruturalista, levar ao limite a estrutura narrativa, na ânsia de demonstrar o seu poder. Pede-se ao leitor, mas nada se oferece em troca. Estas abordagens dos anos 1960/70 foram novamente tentadas no final dos anos 1990, no mundo recente das narrativas interactivas, e mais uma vez se demonstrou toda a sua incapacidade para verdadeiramente envolver o receptor.

Se dou 4 estrelas, é pelo que demonstra o experimentalismo de Calvino, e não pela estética ou pelo que nos diz. Friso-o para que quem se aproximar deste livro, o faça sabendo disto, não se deixando enredar pelas estrelas.

Ricardo Sousa

This book consists of descriptions of (light spoiler ahead) imaginary cities. That’s it - there is a bit more, but really not much else. This is a highly descriptive book and, as such, not exactly my cup of tea. However...

... this is really, really well written - and that alone makes it a pleasant read. Furthermore, the ideas/ concepts underlying each city, not only showcase an impressive creativity, but are also rather well developed!

Is this a masterpiece that I will run to tell other people about? Maybe not. Is it a book worth reading that made me want to read other books from Calvino? Absolutely.

As cidades invisíveis

Reviews