O Vermelho e o Negro
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“O Vermelho e o Negro” (1830) surge algumas décadas antes de “Madame Bovary” (1857), oferecendo-lhe toda uma nova abordagem do romance, marcando aquilo que ficaria conhecido como, a ascenção do realismo e queda do romantismo, e que Flaubert aproveitaria tendo em conta toda a sua força. Apesar da proximidade, a extensão e intensidade da obra de Stendhal leva a que facilmente a sua leitura permaneça dentro de nós, debatendo-se com aquilo que somos, algo que dificilmente ocorre com o trabalho de Flaubert. Flaubert ao procurar traçar o íntimo de Bovary na senda de Stendhal, fica-se grandemente pelo exacerbamento dos traços emocionais, criando uma personagem menos crível, ainda bastante romanesca. Stendhal não fica isento desses resquícios de romantismo, nem sempre Jorel e as suas amadas são críveis, o excesso trespassa muito do que tem coração por ali, mas quando estamos a sós com Jorel, é ele que nos é dado, o seu mundo interior que Stendhal plasma na perfeição nas linhas de texto. A densidade de Jorel, do abade Pirard, da Sra. de Rênal ou de Mathilde de la Mole é intrincada e complexa, sempre condicionados pelas regras do social mas plenos de livre-arbítrio, garantindo surpresa ao enredo, e ao mesmo tempo a descoberta, pelo leitor, do potencial psicológico humano. Vermelho e negro, amor e loucura, combinam-se numa leitura intensa com vários níveis de profundidade psicológica que quase nos levam à insanidade.