A polícia da memória

A polícia da memória

Yōko Ogawa2021
A polícia da memória , publicado originalmente em 1994, chega ao Brasil pela Estação Liberdade. O livro, finalista do International Booke Prize 2020, e do National Book Awards 2019, foi traduzido em diversos idiomas e, mais uma vez, marca o talento da escritora contemporânea Yoko Ogawa. Em narrativa melancólica, o leitor é conduzido ao submundo das memórias perdidas. Em tom de ficção cientifica, uma ilha governada por policiais que buscam vestígios de lembranças. Na ilha, os objetos, casas, e famílias inteiras somem sem deixar vestígios. Sem que as pessoas sequer se atentem, e notem os desaparecimentos, pois as lembranças furtivamente também já se foram. Na trama, uma escritora tenta manter intactos resquícios de histórias, de algo que possa permanecer. Não é fácil, já que tudo ao redor desaparece, e ela não pode contar sequer com a própria memória. O leitor é convidado, instintivamente, a acessar o seu próprio arcabouço de lembranças, e percorre uma jornada de memórias que gostaria de preservar. Acessar as memórias é acessar, também, o que criamos e o que se mistura ao real. Ler A polícia da memória é embarcar no mais profundo do ser. Há uma pergunta que circunda toda a narrativa: Se pudesse, o que você preservaria intacto, e não perderia da memória?
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Reviews

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renni@renni
4 stars
Sep 19, 2023

"Você sabia que, se cortarmos as antenas de um inseto com uma tesoura ele imediatamente fica quietinho? Torna-se hesitante, começa a andar em círculos, para de se alimentar. É a mesma coisa. No momento em que você perde a voz, perde também a capacidade de dar forma a si mesma." Durante minha leitura eu não sabia se estava gostando ou não do que lia. Eu estava naquela área cinzenta o tempo todo. Eu estava gostando pela forma lírica da história ser contada. Não tinha exatamente um plot. A vida nesse universo distópico só estava acontecendo e a gente estava assistindo através da personagem. E as vezes eu não estava gostando justamente por isso. Nada realmente acontecia. Porque estão sumindo com as memórias? Porque e como isso afeta alguns e não outros? Porque nada parecia que realmente tinha um peso? Depois de terminar creio que entendi por completo e posso concluir que eu gostei da história. O ritmo monótono num universo tão caótico é quase um (des)equilíbrio perfeito. O apego e medo de algo não palpável e incontrolável assusta. Não existiu nada tão genuíno quanto o relacionamento dos três personagens. A sua voz nunca realmente some. Enfim, foi um livro bem interessante (e não que venha ao caso mas gostei mais do que 1984). Gosto quando tudo acontece no nada.

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luiza gonçalves piuma@luiza_piuma
4 stars
Jan 17, 2023